Do Belo Uruguay para o Molhado Brasil

11-11-2004 17:22

Do Belo Uruguay para o Molhado Brasil


07/11/2004

Saímos de Montevideo no rumo norte mas totalmente sem pressa, pois queríamos conhecer um pouco do litoral uruguayo. Assim subimos costeando as praias até San Jose de Carrazco. E nós que pensávamos ter já conhecido o melhor do Uruguay .... que nada ! O bom mesmo ainda estava por vir.

Em San Jose de Carrazco tomamos a Ruta 1 novamente. Tencionávamos ir por outra ruta com visual mais interessante, mas optamos pela Ruta 1 pois se ganha em velocidade, tempo e segurança. Além disso não poderíamos nos esquecer de que no pneu traseiro de minha moto ainda repousava uma câmara improvisada de moto 125 cc, e com um calço precário na válvula ! E seria bom que ela continuasse adormecida. A Ruta 1, neste trecho, parece estar brincando de esconde-esconde ou de pega-pega com a orla marítima. Muito interessante, e na é monótono.

Mais à frente pegamos a Ruta 1-B, bem no litoral, a caminho de Maldonado. Passamos por praias paradisíacas, como Punta Ballena que é um show maravilhoso, e saímos em Punta Del Este. Por aí dá pra se ter noção de como estávamos chiques e metidos à besta. Punta Del Este é um desbunde ! Sem palavras. Vale cada centavo gasto em uma visita. Fico sem adjetivos para poder explicar.

Atlântico acima, paramos também em La Barra para abastecimento das motos e estômagos. La Barra é muito linda, vale uma boa visita, pois tem um visual maravilhoso.

Continuamos subindo pelo litoral até Manantiales, onde pegamos uma ruta vicinal que liga Manantiales à Ruta 9. Daí seguimos para o norte tendo como paisagem os campos agro-pecuários uruguayos, só que neste trecho muito mais bonitos que os do extremo sul.

A topografia uruguaya é muito bonita, com uma sucessão infindável de suaves colinas. Alegoricamente poderíamos dizer que o Uruguay é como um imenso plástico-bolha em vários tons de verde, cortado por arroios e sangas límpidos e lindos. A paisagem uruguaya, tanto do interior, como do litoral descansa a mente.

Fizemos uma parada técnica em Rocha e seguimos em frente, nesta altura já decididos a chegar a Chuí (RS), já no Brasil, o que ocorreu 380 km após termos saído de Montevideo.

Paramos no acostamento para fotografarmos uma espetacular laguna chamada Laguna Negra. Logo após, a uns 50 km de Chuy (R.O.U.) acontece na Ruta 9 uma coisa rara: a estrada, por 3 km, se torna bem larga, pois está adaptada para pousos de emergência de pequenas aeronaves.

É incrível como uma simples letrinha pode mudar tudo ! Estávamos em Chuy (Uruguay) e atravessamos apenas uma avenida e já estávamos em Chuí (Brasil). Ficando-se no canteiro central dessa avenida, coisa que fizemos, pode-se perceber toda a diferença. O lado brasileiro é um lixo ! Entra quem quiser, e um país assim não pode mesmo dar muito certo.

Já estou com saudades do Uruguay, da Argentina, do Chile e até do Paraguay.

Interessante que, com esperávamos encontrar uma aduana brasileira, passamos direto pela aduana uruguaya, mas não houve problemas. Apenas tivemos que retornar e fazermos os trâmites. A aduana brasileira fica um pouco mais à frente, bem adentrada no Brasil.

Nos hospedamos no Bertelli Chuí Hotel, que fica na BR 471, bem junto da divisa, no lado brasileiro. Um excelente hotel. Logo após saímos pra comprar cartões telefônicos e comermos alguma coisa substanciosa. Fomos para a tal avenida que divide os dois países, e para se ter idéia do subdesenvolvimento do lado do nosso país, basta dizer que tivemos que comer, comprar água, chocolates e navegarmos na Net do lado uruguayo, pois deste lado não há quase nada. Acho que quando o Renato Russo cantava “Que País é Este?”, ele sabia exatamente o que estava dizendo.

Mas jantamos nababescamente algumas massas, regadas a sucos de pomelo, e voltamos ao hotel com um céu na cabeça mais estrelado que farda de general na época da ditadura.

No dia seguinte fomos para Pelotas (RS).


08/11/2004

Saímos de Chuí cedo, pois o Sr. Walter e Esposa nos esperaríamos para o almoço.

Mesmo que não houvesse placa alguma de sinalização, o estado da BR 471 já denunciaria que estávamos de volta no Brasil. Que merda !

Fizemos uma parada técnica para garantirmos o combustível, e depois paramos no trecho em que essa estrada passa pelo Banhado do Taim, uma linda reserva ambiental razoavelmente bem preservada. A abundância da fauna ali é um prêmio aos olhos. Muito lindo mesmo !

Quando saímos do Banhado do Taim senti que a moto estava trepidando muito, mas como o vento lateral estava absurdamente forte, pensei que não fosse nada. Daí paramos em Rio Grande para o Tony abastecer, e então vimos que a câmara do pneu traseiro de minha moto tinha acordado de sua hibernação, e o pneu estava totalmente vazio. Enchemos o pneu num posto pra chegar até um borracheiro.

Quando o pneu foi desmontado, pode parecer loucura, mas a câmara improvisada em Santa Fé (AR) estava toda em tiras, em frangalhos, em vários pedaços. Estava mais picada que manga de camisa de espantalho. E tem foto ! Desmontamos a porra da roda e lançamos mão da câmara reserva que eu havia comprado em São Luiz (AR). O borracheiro foi muito atencioso e competente. Montamos a roda e seguimos viagem logo preocupados em não atrasarmos para o almoço.

Chegamos a Pelotas 267 km após Chuí, e fomos muito bem recepcionados pelo casal Walter e Dona Lucy Salazar, que nos esperavam com um almoço digno de um faraó. Muito bom ! Para fazermos a digestão fomos levar as roupas para lavar e passear um pouco pela cidade, que tem aspectos muito interessantes e sabe preservar seus prédios antigos, suas tradições e seus monumentos. Em Pelotas está o primeiro marco da República Riograndense muito bem preservado até hoje.

O Sr. Walter e a Dona Lucy nos instalaram tão bem e nos deixaram tão à vontade que que ficamos até sem jeito. Este casal é a personificação da boa hospitalidade gaúcha. Aproveitamos o porto amigo para pormos em ordem nossas coisas, fazermos uma contabilidade prévia e darmos um tapa nas bagagens, pois no dia seguinte seria Porto Alegre (RS).


09/11/2004

Saímos de Pelotas cedo, pois havíamos marcado horário para nos encontrarmos com o João Vargas (Cruzando Sul), na estátua do Laçador em Porto Alegre.

Como em Pelotas estava chovendo demais da conta desde a noite anterior, já sabíamos de antemão que seria uma viagem um pouco tensa e encharcada novamente. Pegamos a BR 116 no sentido norte e a chuva aumentou ainda mais. A BR 116 é mesmo uma estradazinha safada, feia, cheia de remendos e buracos. E é pedagiada ! Não sei como alguém pode pagar para utilizar uma estrada tão ruim e não espernear. Eta país à toa !!!

Após 275 km aquáticos chegamos a Porto Alegre e nos encontramos com o amigo João Vargas. Fomos presenteados com um baita almoço, e para fazermos a digestão fomos passear no centro da cidade, onde o João nos levou ao Espaço Cultural Mário Quintana que funciona no prédio lindíssimo e totalmente restaurado do antigo Hotel Majestic. Fomos também ao Espaço Cultural Santander, à Feira Estadual do Livro, à Biblioteca Pública do Estado, além de um roteiro por muitos prédios seculares muito bem preservados. Andar pelo centro de Porto Alegre com o João Vargas é mesmo um grande banho cultural.

à noite saímos o João Vargas, as filhas Touanda e Paloma, o Tony e eu para jantarmos uma boa pizza e um sorvetinho pra arrematar, além de um passeio de despedida pela Porto dos Casais. O João Vargas e suas filhas Touanda e Paloma são, invariavelmente, maravilhosos anfitriões. Lhes somos gratos.

Pretendíamos ficar dois dias em Porto Alegre, mas a chuva não cede, e chuva por chuva, melhor pega-la na estrada a caminho. Nesse país nem o tempo ajuda. Assim, pé na estrada a caminho da casa do amigo Gau.


10/11/2004

Saímos cedo após um bom café-da-manhã na casa do João Vargas, e pegamos a famosa Free Way que liga Porto Alegre a Osório. É uma indignidade, uma afronta se pagar pedágio para se trafegar por uma estrada toda cheia de buracos e imperfeições como essa. A Free Way já conheceu tempos melhores e eu sou testemunha disso.

No final da Free Way no município de Osório (RS) seguimos para o norte pela BR 101, que está muito mal conservada e com um fluxo absurdo de caminhões. Ah! A chuva continuou a nos acompanhar até o destino em Palhoça (SC). Sobre as super roupas da G-Tec nem vou mais falar, pois seria literalmente chover no molhado.

Por causa das fortes chuvas os caminhões formavam um spray sujo que nos tirava toda a visão, tornando este trecho da viagem, infernal. Estava quase impossível prosseguir. Mas felizmente chegamos bem e inteiros à casa do grande amigo e companheiro Gau.

O Gau é uma figura humana da melhor espécie, excelente anfitrião, amigo fiel e muito bom papo, além de ser de longe o maior motociclista deste país, e mais uns 279 adjetivos superlativos. E eu tenho o maior orgulho de poder privar de sua amizade.

Mal chegamos e o Gau já nos instalou em duas suítes. Daí limpamos roupas, capacetes, luvas e malas (lavagem precária) , enquanto conversávamos sobre aventuras vária e a respeito da condição humana ou qualquer coisa parecida com isso.

Lá pelas tantas começaram a chegar alguns dos amigos motociclistas do Gau que pertencem ao Brasil Rider´s. O Brasil Rider´s é , sob certo aspecto, a evolução do motociclismo associativo. Vale à pena se informar a respeito e ser um Brasil Rider. Acesse o site www. Brasilriders.com.br .

Daí começou o churrasco e a comilança numa grande irmandade. E haja carne ! Esse pessoal é muito cordial, prestativo, alegre e a afinidade foi imediata. O Gau nos proporcionou uma das noites mais agradáveis desta viagem.

Lá pelas tantas o Gau e eu nos lembramos que fomos e somos Urubus históricos, e foi buscar sua velha jaqueta com o pequeno brasão, acontecimento devidamente fotografado.

Nos anos 70, quando ainda não se pensava em motociclismo associativo no Brasil, o Gau fundou em Manaus (AM) a A.A.Mo. – Associação Amazonense de Motociclismo, cujo símbolo era e é um urubu de muleta e asa quebrada que, sem entrar em detalhes, inspirou outras “aves” posteriores deste país. E naquela época o Gau me convidou para ser sócio e eu prontamente atendi.

11/11/2004

Hoje acordamos com um tempo meia-boca e decidimos ir visitar a ilha de Florianópolis. Antes de chegarmos lá a chuva já nos pegou de novo, e visitamos a ilha sob uma chuva bem chata.

Como a chuva não quer nos deixar em paz, iremos amanhã para Curitiba e São José dos Pinhais.

Abraços a todos.

MARCÃO E TONY
Palhoça, em 11 de novembro de 2004

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